segunda-feira, novembro 07, 2005
A herança - parte I
A manhã era normal como todas as demais. A mesa da Grifinória estava repleta de alunos que tomavam seu desjejum antes de rumarem para suas aulas. Tão logo o café da manhã foi servido, adentrou o salão a costumeira revoada matinal de corujas que traziam as correspondências dos internos.
Galadriel, a pequena coruja branca de olhos azuis repousava no corujal, como bem sabia Arwen. A garota não havia despachado nada, e não esperava receber nenhuma carta nem naquele dia, nem nos seguintes. Ficou surpresa quando uma imponente coruja-das-torres parou solenemente diante dela, esticando-lhe a pata, onde estava preso um pergaminho. Olhou para os lados para verificar se a coruja não havia errado o destinatário. Alexis engolia suas panquecas com mel enquanto lia o Profeta Diário, e nem percebera o olhar da amiga. Como os demais já estavam de posse de suas correspondências, e os que não estavam também não procuravam por algo, decidiu por fim, pegar o que parecia lhe pertencer.
Tão logo começou a desenrolar o pergaminho, a imagem do brasão oficial do Ministério da Magia deixou a grifinória ainda mais curiosa e um tanto intrigada. Mal começou a ler o documento e sua curiosidade transformou-se quase que instantaneamente numa espécie diferente de melancolia e desalento.
"Comunicamos a Srta. Arwen de Lórien Potter que após o falecimento da Sra. Liv Spellman Potter, os bens de sua família devem ser entregues à sua herdeira legal.
Estaremos enviando em anexo um formulário a ser preenchido e entregue a um procurador maior de idade, para que sejam retirados bens de menor valor e escrituras de propriedades pertencentes à família. Os pertences mais valiosos serão entregues diretamente no Banco de Gringotes, onde serão guardados no cofre da família, e a chave do mesmo será entregue juntamente com os demais pertences e documentos.
Atenciosamente,
Sra. Nicole Gardner
Secretária do Departamento de Tutela de Bens e Bruxos Menores do Ministério da Magia."Suspirou, enrolando de volta o pergaminho e oferecendo um pedaço de bolo de caldeirão para a coruja, que ainda a observava. Assim que recebeu o agrado, a ave ministerial levantou vôo e seguiu viagem, deixando a menina pensativa.
Durante as férias não havia pensado nesses trâmites legais e burocráticos. Na realidade, nem tinha conhecimento ao certo do que possuía, mas decerto não era nada milionário. Tinham uma vida tranquila, mas sem luxo. Sabia da casa em Londres, onde estavam os pertences da mãe e algumas recordações do saudoso pai e da caixa que lhe fora entregue nas férias. Não possuíam elfos domésticos, nem grandes propriedades.
"Um procurador..." - pensava a jovem -
"mas quem poderia ser um procurador da minha ilustríssima pessoa que desde que chegou a Hogwarts esse ano só fez chorar, grunhir e servir de ponto de referência por causa das minhas orelhas pouco... convencionais?"Enquanto mentalizava um possível procurador, assustou-se com os olhos amarelados e cristalinos de Alexis lendo o documento novamente aberto nas mãos da amiga.
- No que tanto pensas, Orelhudinha? Isso aconteceria mais cedo ou mais tarde...
- Eu sei. Mas preciso de um procurador. O Ministério não deu brecha para que eu mesma fosse retirar meus pertences, e tal. Não faço idéia de quem seria...
Num passe de mágica (como se magia fosse a coisa mais extraordinária em Hogwarts), uma belíssima jovem loira de olhos muito azuis, porte altivo e que deixava todos os seres do sexo masculino embasbacados enquanto ela caminhava (praticamente desfilava) pelo salão, parou mesa da Grifinória dando um sorriso caloroso.
- Olá garotas! Que bom revê-las! Estava com saudades!
As meninas responderam muito satisfeitas o sorriso de Marjorie McGonagall, sobrinha da professora e diretora de sua casa,
Inominável, membro da Ordem de Fênix, inteligentíssima, inigualavelmente bela e guardiã das meninas em sua viagem até a Cidade dos Galadhrim durante as férias de verão. Arwen pressentiu o que a levara até ali.
- Então você é a minha procuradora... - disparou a garota - Começo a crer que talvez você seja uma espécie de fada madrinha!
A loira sorriu.
- Quase isso... se eu fosse uma fada. Digamos que eu seja uma pessoa designada a zelar pelo seu bem-estar e segurança. Algo que todos vocês aqui em Hogwarts têm. Embora a grande maioria não saiba disso.
A morena de orelhas pontudas riu prazeirosamente. Era bom sentir-se amparada depois de tudo o que lhe havia acontecido. Lembrou-se de relance da irmã da "guardiã" que lhe designaram e o ocorrido dias antes do retorno à Hogwarts. Só então percebeu que a menina não estava presente na mesa durante aqueles primeiros dias. Talvez estivesse em casa... Misty McGonagall sempre andava se espaventando pelos corredores, rindo e chamando a atenção onde estivesse com seu jeito pouco discreto de ser...
- Srta. McGonagall, como está Misty? Não a tenho visto pela escola...
- Bom, ela está bem melhor, a fogueteira... Não quis voltar para Hogwarts para não encarar a realidade e as perdas... Mas acho que ela vai acabar mudando de idéia. Está em Beauxbatons. Creio que ela não esteja gostando muito da "frescurada française", como ela mesma diz...
Arwen sorriu de novo. Apesar das desavenças, não a queria mal.
"Pelo menos se ela voltar, o caminho agora está livre pra ela..." - pensava, enquanto olhava de esgueira para um jovem de cabelos negros desgrenhados, olhos verde-intenso, óculos e a famosa cicatriz em forma de raio na testa, que tomava silenciosamente o seu café.
Arwen Lórien Potter às 15:52h